sábado, outubro 23, 2004

(sem inspiração pra título decente)

Eu sempre achei declarações de amor inúteis. Coisa que só funciona em filme hollywoodiano, onde era óbvio que ia dar certo porque o casal era o título do filme. Na real, ali, cara a cara, só servia para deixar a pessoa fazendo papel de boba apaixonada.
Ainda, o apaixonado se enche de esperanças, pois praticamente ninguém que escuta um "eu te amo" vence a vaidade e consegue ser realista o suficiente e dizer a verdade, de olhar no olho e responder um "não dá". Assim, seco, sem floreios ou eufemismos, é muito raro. Normalmente o amado dá uma razão para justificar o não; seja uma outra pessoa, um ex amor, uma cabeça confusa, a falta de tempo. E lá vai o apaixonado tentar achar uma solução que deixe o amado sem mais desculpas para rejeitar o amor. Aí é que aparece o "não dá" seco, ou até meio impaciente. Mas se a resposta é positiva (que provavelmente teve antes uma promulgação da decisão), eu não boto tanta fé. Não acredito em vencer pelo cansaço.
E tem outro ponto (mas esse é mais pessoal, saído da minha personalidade): eu vou é inflar o ego da pessoa a troco de uma ilusão. Tento então transformar o sentimento em amor-próprio - eufemismo de orgulho...
Uma vez se declararam para mim. Ali, na lata, "eu te notei dia tal, quando você fez isso isso e isso", e um monte de outras confissões (pretensão minha chamar de declarações). Mas não foi bom. Há quem diga que é sempre bom saber que tem alguém que gosta da gente, mas eu não consegui usar aquilo como alimento para o ego. Eu só consegui perceber a situação constrangedora que aquelas palavras criaram, e quão mal a pessoa poderia se sentir.
O fato do meu ego não ter sido inflado bateu de frente com o que eu pensava antes. E isso me fez reconsiderar a respeito da eficácia de uma declaração de amor. Talvez não seja de todo ruim... ou talvez os homens sejam narcisistas o suficiente pra se acharem por qualquer baranga que dá bola, que dirá uma declaração. Talvez eu esteja chata num nível entre o feminismo e o orgulho irracional.
Diagnosticando a minha situação específica, uma declaração de amor (há de se confirmar a espécie do sentimento) não acrescentaria muita informação. Só alertaria da intensidade, que às vezes nem eu acredito ser tanta. Sendo assim, só surtiria efeito considerável se sugerisse um futuro. Que nem eu sei se seria o melhor...
Um relacionamento que fosse fruto dessa declaração seria, no mínimo, estranho. Um tanto forçação de barra da minha parte (afinal, para todos os efeitos o que eu tenho que fazer é só esperar. Só. Quem vê até acha que eu disponho de tamanha serenidade), o que pode resultar num sentimento equivocado. Do tipo "venci pelo cansaço". Ou fui a opção mais palpável.
Taí mais uma consequência desagradável de se declarar: se tornar disponível. Admito com um tanto de vergonha que já cogitei meu antigo "apaixonado" como uma possibilidade de ficar feliz. Não por gostar, nem tentar gostar, mas por saber que a pessoa gosta e poderia me proporcionar momentos agradáveis. Então eu percebo que estou colocando outra pessoa na mesma condição que fui colocada. E é importante frizar que se alguém vira para você e diz que considerou a "possibilidade de tentar com você" isso não é uma notícia boa. Paradoxalmente, faz bem ao ego na hora, mas depois você percebe que saiu desfilando um "2ª opção" carimbado bem na sua testa.
Se declarações de amor são tão degradantes, por que é que as pessoas ainda o fazem? É claro que traz algum benefício, só falta descobrir qual. Paz consigo mesmo? Alívio por ter tentado? Eu só consigo enxergar o embaçado das falsas esperanças e até mesmo um quê de humilhação. Então eu rio, pensando como os amantes conseguem ser tão ridículos... e como eu temo estar entre eles.

2 Comentários:

Blogger ana luiza"/ disse...

Eu diria que o título é CONVERSAS DE BOTAS BATIDAS.

 
Blogger ma®a disse...

apesar do MdP não ser lá tão famoso, eu tirei o link pq fiquei meio receiosa a respeito desse post. pra mim ele parece incrivelmente explícito, tanto que eu nem sabia se ia postar ou não.
é, já deixei de ser pessimista, mas tbm já desisti do motivo pelo qual eu pensei nisso tudo aí em cima... hehe, tô num tipo diferente de AA... (tipo q a sigla ainda pode ser essa)

 

Postar um comentário

<< Home