< oco >
Sentada domingo na pia do lado de fora da cozinha de casa. Chupando mixirica doce e cuspindo os caroços pro alto - exceto por alguns que insistem em não sucumbir à força do meu sopro e caem na minha calça de pijama.
Pra quem me vê, pode parecer que eu tô em outro mundo, com os olhos fixos no muro de tinta descascando e sem mover um músculo sequer, que não seja os envolvidos na ação de chupar a mixirica que, agora, me olha com cara de piedade por só faltarem quatro gomos para que sua existência seja banida da Terra.
Não tô em outro mundo, não, por mais que a situação seja propícia para viajar. Nada passa na minha cabeça, meu cérebro só recebe as informações que a minha língua passa pra ele: "doce", "bom", "caldo", "duro", "gasp, azedo de caroço mordido". Ele também recebe a informação dos meus olhos seguindo uma formiguinha descendo o muro sem se importar com a gravidade.
A mixirica enfim é extinta, e agora eu preciso de outro meio de interação com a Terra pra que eu não entre em estado de alfa irreversível... Recorro às boas lembranças de Maio (um dos melhores meses da minha vida. Depois de Maio, eu posso dizer com convicção que sei exatamente o que é felicidade. Posso até ousar dizer que experimentei estar apaixonada), em busca de conforto. Busco em Maio preencher o vazio mental de agora. Admito que o vazio atingiu também a casa da emoção, mas essa parte não me incomoda. Inclusive porque eu diariamente me convenço de que a emoção é escrava e obediente à razão, mas essa é uma discussão a se ter quando minhas dissertações não forem mais sobre mixirica.
1 Comentários:
Adorei...
:)
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